Artigo

O Fanático por Metodologia

por Rafael Assunção

No mês passado estive participando como mentor do Startup Weekend e me deparei com um tipo de empreendedor que tem sido cada vez comum no cenário das startups: o Fanático por Metodologias.

A conversa com ele foi muito interessante. Depois de ouvir um pitch de 3 minutos sobre uma ideia “inovadora”, “disruptiva” e “original”, resolvi perguntar como ele iria monetizar aquele negócio.

Ele me disse que aquela não era uma questão relevante no momento, pois de acordo com o Steve Blank, ele estava na fase de encontrar o Product/Market Fit, e como ainda iria pivotar o negócio algumas vezes, não era hora de resolver isso. Disse que segundo o Startups Genome Compass, startups que pivotam tem mais chances de sucesso.

Tentei questionar o modelo de negócio, para saber se estávamos falando de algo que fazia sentido. Ele me disse que já tinha feito o Business Model Canvas na versão do Alex Osterwalder e que já tinha usado o LeanLaunchLab para documentar tudo. Além disso, me contou que não concordava versão do Ash Maurya para o Canvas e que prefiria usar a original.

Apelei para saber quantos clientes ele tinha conseguido. Ele me disse que esta não era a métrica importante neste momento e que segundo o Dave McClure, ele estava adotando o Métricas para Piratas (AAARR). Para isso, ele já tinha feito a implementação do KissMetrics, assim estava conseguindo monitorar todos os KPIs da empresa. Disse-me ainda que esse negócio de OMTM (One Metric That Matters) não faz sentido…

Já ficando desesperado, decidi pedir para ver o produto. Ele me disse que ainda não tinha um produto,  pois de acordo com o Eric Ries, ele estava fazendo um Concierge MVP. Além disso, só depois da validação iria buscar no Techcofounder um sócio para construir o software.

Com medo que a coisa piorasse, desisti da conversa e fui embora… ainda não sei o que fará aquela startup, qual o problema irá resolver, qual o mercado irá atender e qual sua proposta de valor, mas descobri uma coisa: tem gente ficando fanática pela metodologia e esquecendo do cliente!

(crédito da foto: http://www.flickr.com/photos/mrseb/4301220090/)

 

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Rafael Assunção

Rafael Assunção é fundador e Managing Partner da Questum, primeira assessoria especializada em operações de fusões e aquisições envolvendo startups do Brasil. Possui mais de 20 anos de experiência como empreendedor, investidor, advisor e board member de startups. Foi mentor de mais de 500 delas nos programas StartupSC e Darwin Starter e eleito, por cinco vezes consecutivas, como um dos 3 melhores Mentores de Startups do Brasil pela Associação Brasileira de Startups.

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8 respostas

  1. Vender a ideia de startups já é um big business… o que exige big buzzwords e um monte de vendedores de snake oil e suas metodologias. Desde o Fantástico e o Max Gheringer até os TEDs e Demos, o que mais tem agora é vendedor de ‘empreendedorismo’. Só precisa avisar o proverbial zagueiro russo de que ‘este país’ ainda é muito hostil a qualquer empresa. Oremos pelas startups e seus heróis!

    Fernando Pierry

  2. Rafael, meus parabéns pelo seu artigo – é bom para dar uma cutucada nos aspirantes a empreender. Metodologias são úteis, pois ajudam no preparo, mas não substituem a prática de negócios, o bom senso, o pé no chão e as responsabilidades. O empreendedor de uma Startup deve ter um propósito e objetivos claros, porém, mais que sonhar, deve procurar conseguir o quanto antes Receita, Lucro, Clientes, Clientes-piloto, Usuários não pagantes e Hipóteses verificadas a respeito dos problemas dos clientes, assim como taxas de crescimento. Abraço, @neigrando

    1. Nei, grato pelos comentários. O objetivo do artigo era exatamente este. Além disso, é sempre bom a gente também rir um pouco de coisas que todos nós fazemos. Abs.

  3. "Faturamento é ego, lucro é ilusão, o que importa mesmo é fluxo de caixa" – Wolney Betiol.

    Continuamos nos engando, enquanto o mercado está ali.
    Parabéns, ótimo artigo.

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