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O caminho para o Early Exit

por Rafael Assunção

Foto: Dustin Tramel / Unsplash

“Crie e administre sua empresa pensando sempre no momento da venda”,

um conselho que muitos empreendedores de tecnologia com certeza já ouviram de algum mentor, em alguma palestra ou leram em algum livro. Vender a empresa é o sonho de muitos fundadores, então é preciso falar sobre as possibilidades de exit.

Tradicionalmente são duas saídas que os empreendedores podem realizar, o early exit e o big deal. Na primeira, os empreendedores vendem sua startup em um estágio ainda intermediário, muito antes de abrir um IPO (oferta inicial pública) na bolsa ou antes até do investimento série B ou C. A segunda opção é muito mais tradicional, os empreendedores constroem uma grande corporação, passam por muitas séries de investimento e acabam realizando o exit quando a empresa está muito madura.

Aqui no Brasil, estamos vivenciando uma onda de early exits, com grandes corporações adquirindo startups. A média dessas transações é de R$ 20 a R$ 50 milhões, e ocorre com empresas que possuem de três a quatro anos de vida. São pequenos negócios, quando comparamos com grandes gigantes de tecnologia que estão realizando IPO.

O caminho do Early Exit

Temos muitas instituições mirando a aquisição de startups já escaladas e com bom fluxo de vendas e poucas as que possuem capital em caixa para realizar uma aquisição acima de R$ 100 milhões. Por isso o early exit acaba sendo uma alternativa possível e atrativa para o cenário nacional.

Normalmente, as empresas adquiridas recebem poucas rodadas de investimento, no máximo um investimento seed, e estão longe de realizar um IPO. Ainda há muito potencial para crescimento dessas empresas, mas elas já estão estabelecidas no mercado, com uma solução validada e escalada. Na minha trajetória dentro do ecossistema de tecnologia de Santa Catarina presenciei algumas saídas com essas características:

  • A Chaordic, vendida para Linx por R$ 55 milhões;

  • A Hiper, também vendida para Linx, por R$ 50 milhões;

  • A Axado, adquirida pelo Mercado Livre, por R$ 28 milhões.

Estratégias do Early Exit

“Minha premissa é que startups e empresas iniciais devem adotar essa abordagem nova e simples – começarem pequenas, permanecerem enxutas, levantarem apenas o investimento de que realmente precisam, fazerem o negócio crescer e depois executarem uma saída antecipada”, é o que recomenda o autor americano Basil Peters, no livro Early Exit.

No livro, Basil dá o direcionamento: “faça um plano de negócio de dois anos no máximo. Desenvolva uma tecnologia nos primeiros 12 meses, e passe os próximos 12 meses desenvolvendo parcerias, vendas e clientes. Se você não conseguir bons potenciais clientes em 24 meses, pense em pivotar ou achar outra startup.”

No outro lado

Apesar de não serem a maioria, muitos empreendedores brasileiros buscam um exit mais maduro, com o chamado big deals. É um caminho longo, onde a startup passa por várias rodadas de investimento e está sempre em crescimento, com o objetivo de ter uma venda acima de U$ 100 milhões ou fazer um IPO (oferta inicial pública) na Bolsa de Valores.

No ecossistema catarinense também encontramos algumas empresas com essas características:

  • Resultados Digitais, fundada em 2011, com investimento série D de R$ 200 milhões, liderado pelo fundo Riverwood Capital. A Riverwood se juntará a outros investidores da Resultados Digitais, como TPG Growth (Airbnb, Azul, Spotify, Uber), DGF Investimentos (Reclame Aqui, Ingresse, Resultados Digitais), Redpoint eventures (Creditas, Gympass, Magnetis, Pipefy, Rappi), Astella Investimentos (Omie, Sallve, Qulture Rocks) e Endeavor Catalyst (Conta Azul, Contabilizei, Creditas, Dr. Consulta, Guia Bolso, Rappi).;

  • Neoway, que está na rodada de investimento série B, com U$ 45 milhões e foi aportada por QMS Capital, PointBreak, Pollux, Andrew Prozes, Accel Partners, Monashees e Endeavour Catalyst.

Para realizar a saída de empresas com esta faixa de valuation ou acima, a melhor opção é contratar grandes empresas que trabalham com aquisições e fusões de organizações. Os empreendedores devem também buscar investidores que tenham uma boa relação e parceria com empresas com essa expertise.

Retornando para o ecossistema

Tanto o IPO quanto o early exit são importantíssimos para o ecossistema de tecnologia nacional. Esta é a hora que os empreendedores e investidores são recompensados financeiramente pela sua dedicação. Nessa hora também nascem novas oportunidades para os colaboradores e para a sede da startup, que passa a se destacar no mapa da inovação e a atrair novos negócios.

O próximo passo desses empreendedores, que agora contam com uma boa saúde financeira, é seguir para novos desafios e, muitas vezes, retornar para o ecossistema em forma de #GiveBack: ajudando pessoas que estão começando, oferecendo mentorias, consultorias, virando investidores, ou até como fundadores ou cofundadores de novas startups.

Com tudo isso, existe a melhor estratégia de saída? Não, ela depende muito da visão e expectativa dos empreendedores. O importante é que toda empresa tenha um plano de saída. E nossa recomendação é que todos fundadores alinhem a sua estratégia de saída antes de receber o primeiro real de investimento na empresa.


*Artigo publicado originalmente em outubro de 2019 pelo site da Revista HSM Management, feito em parceria com a Darwin Startups.

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Rafael Assunção

Rafael Assunção é fundador e Managing Partner da Questum, primeira assessoria especializada em operações de fusões e aquisições envolvendo startups do Brasil. Possui mais de 20 anos de experiência como empreendedor, investidor, advisor e board member de startups. Foi mentor de mais de 500 delas nos programas StartupSC e Darwin Starter e eleito, por cinco vezes consecutivas, como um dos 3 melhores Mentores de Startups do Brasil pela Associação Brasileira de Startups.

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