Artigo

Valuation para startups, em 10 minutos

por Rafael Assunção

Em dezembro de 2019 estive no Darwin Con, a conferência anual da Darwin Startups, que acontece em Florianópolis e reúne empreendedores, mentores, advisors, investidores, corporações e parceiros.

Fui convidado a falar sobre uma parte da jornada das startups que parece um pouco esquecida: a fase da saída, ou, melhor dizendo, o tal do exit. De fato, temos diversas iniciativas e instituições (como a própria Darwin), investidores anjo, mentores, etc. atuando nas fases de criação, desenvolvimento e aceleração de startups, mas faltam atores para ajudar na última milha, uma parte fundamental do processo, que encerra ciclos e que traz o tão esperado retorno financeiro aos empreendedores e investidores.

M&A tradicionais x M&A de startups

Comecei a palestra explicando as diferenças principais entre os processos de M&A tradicionais e o de startups, focando, principalmente, na questão do valuation.

Em empresas “comuns” medimos o valor intrínseco da operação, considerando seu fluxo de caixa atual e futuro. Já para startups esse processo não faz muito sentido, afinal, muitas vezes, nem temos um fluxo de caixa positivo.

Neste caso temos que considerar, além do valor econômico, seu valor estratégico, que identifica os benefícios e ativos que ela é capaz de gerar para o seu comprador.

A fórmula para o valuation de startups: V= R*I*M

Na sequência, apresentei a fórmula bastante simplificada para determinar o valor de compra de uma startup:

Valuation = Receita x Índice de Liquidez x Múltiplo

VALUATION: essa é uma equação diferente, na qual o resultado fica restrito a uma faixa de valores que é determinada pela capacidade de pagamento do potencial compradores. Para determinar o tamanho possível de uma transação, precisamos avaliar quem está comprando. Esse comprador está acostumado a comprar startups? Por quais valores? Ele tem capacidade financeira para o que estou pedindo? Logo, nosso “V” será um número dentro de um intervalo mínimo e máximo (pense numa curva de sino) que é função do tamanho do “cheque” dos compradores.

RECEITA: considere aqui o faturamento bruto da startup no ano e/ou nos últimos 12 meses da transação. Não estamos falando de MRR / ARR e, sim de receita, esse é o principal indicador. Tendo isso em mente, avalie quais os caminhos para melhor a receita, considerando a expansão da oferta na base instalada, a incorporação de serviços (BPO) ou de serviços financeiros (Fintech).

ÍNDICE DE LIQUIDEZ: ou probabilidade de liquidez, que pode ser qualquer valor entre 0 ou 1, e determina se o negócio está pronto ou não para ser vendido. Se aparecer um comprador hoje, a “casa” está arrumada? Se não há liquidez, não há venda. Problemas de governança ou gestão encontrados durante a negociação podem reduzir o valuation ou, até mesmo, inviabilizar a operação. Atente aqui para questões como contratos de exclusividade com clientes, propriedade intelectual compartilhada, problemas societários, regime tributário “alternativo”, colaboradores sem vínculo CLT, etc.

MÚLTIPLO: o múltiplo é  fator que irá refletir qual a atratividade da startup para o potencial comprador. Buscamos sempre identificar compradores dispostos a pagar um “prêmio” de múltiplo, pois para eles a empresa vale muito mais do que apenas a série de fluxo de caixa futuro.

E qual o plano, hoje?

Depois de explicar rapidamente a fórmula para o valuation de startups, reforcei a necessidade de que as startups tenham planos minimamente definidos sobre o que elas querem.

Gostaria de ser vendida? Por quanto? Para quem? Em quanto tempo? Essa discussão precisa ser feita o quanto antes, para garantir que as decisões tomadas pelo caminho não prejudiquem a capacidade de liquidez do negócio.

É importante colocar um alvo e começar a trabalhar em cima disso. Boa parte do valor das startups está na capacidade de promover inovação disruptiva, e não necessariamente no que geram de caixa hoje. Então, qual o tamanho do seu sonho?

Por fim, finalizei respondendo perguntas e destaquei a importância das saídas possíveis, aquelas com valores que podem até não sair na mídia, mas que serão capazes de mudar a vida de pessoas, trazendo de volta ao nosso ecossistema experiência e empreendedores muito mais capazes para iniciar novos ciclos.

Que venham as saídas possíveis!

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Rafael Assunção

Rafael Assunção é fundador e Managing Partner da Questum, primeira assessoria especializada em operações de fusões e aquisições envolvendo startups do Brasil. Possui mais de 20 anos de experiência como empreendedor, investidor, advisor e board member de startups. Foi mentor de mais de 500 delas nos programas StartupSC e Darwin Starter e eleito, por cinco vezes consecutivas, como um dos 3 melhores Mentores de Startups do Brasil pela Associação Brasileira de Startups.

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